Antônio Fantosati nasceu em Santa Maria do Vale, na província de
Perúsia, a 16 de outubro de 1842. De compleição franzina, dir-se-ia que o seu
destino seria o de um elegante e pacato aldeão. Puro engano. Recebido na OFM, e
ordenado sacerdote aos 23 anos, partiu como missionário para a China. Foi
colocado primeiramente em Hupe, onde ficava a sede do Vicariato e a residência
principal da missão. Dos 33 anos de apostolado passados nessas terras longínquas,
os sete primeiros, nesse centro missionário, foram os mais calmos,
permitindo-lhe dedicar-se ao estudo e prática da língua, até conseguir falá-la
com tal perfeição, que lhe chamavam “o mestre europeu”.
Passou depois a La-o-kow, centro
fluvial de primeira importância, onde durante 18 anos exerceu o ministério com
raro tato e prudência, e com singular compreensão da mentalidade do povo
chinês. Foi administrador apostólico do alto Hu-pe, quando a China foi vítima
duma carestia e dum surto de peste. Em 1878 fundou um orfanato para crianças
abandonadas e organizou a distribuição das ajudas que chegavam em grande
quantidade da Europa. A seguir foi vigário geral do bispo Banci e colaborou na
construção do grande templo de três naves, em estilo românico, do Sagrado
Coração. Em 1888 foi numa visita rápida à Itália. De regresso à China, foi
nomeado bispo titular de Adana e Vigário Apostólico do Hu-nan meridional.
Estavam-lhe reservadas para os
seus últimos anos muitas cruzes e perseguições, que no entanto não lhe
esmoreceram o zelo. Na feroz perseguição dos Boxers pereceram, só em Shansi,
mais de 20.000 cristãos. Precedido no martírio pelo P. Cesídio Giacomantônio,
que morrera a 4 de julho, Santo Antônio e o P. José Maria Gambaro acudiram ao
local do perigo, onde chegaram três dias depois. Foram logo reconhecidos e
atacados pelos revoltosos com uma chuva de pedras e objetos contundentes, e
barbaramente assassinos. O martírio do bispo prolongou-se por mais de duas
horas entre indizíveis tormentos, até que um pagão, vendo-o ainda vivo, o
atravessou dum lado ao outro com um dardo de bambu terminado numa aguda ponta
de ferro. Os dois cadáveres foram primeiro lançados ao rio, mas depois
recolhidos para serem incinerados e as cinzas serem dispersas na água ou
lançadas ao vento, a fim de se tornar impossível dar-lhes a honra duma sepultura.
Algumas testemunhas afirmaram ter visto no lugar do suplício dois anjos a subir
ao céu. Por sua vez, numerosos pagãos que presenciaram a cena do martírio,
exclamaram: <<Estes missionários eram verdadeiramente homens
justos>>.
Cesídio Giacomantônio de Fossa
recebera o nome de Ângelo quando nasceu em Fossa, nos Abruzos (província de Áquila),
a 30 de agosto de 1873. Já desde jovem costumava visitar com frequência o
solitário convento de Ocre, onde repousam os restos do B. Bernardino de Fossa e
do B. Timóteo de Montícchio. Orando diante das suas urnas, começou a sentir
germinar no coração a vocação religiosa e o desejo da vida franciscana.
A 21 de novembro de 1891 foi
recebido na OFM, vestindo o hábito franciscano com o nome de Cesídio, em
memória dum jovem mártir. Depois da profissão religiosa, completou os estudos
em vários conventos, até ser ordenado sacerdote. Depois de exercer por algum
tempo o ministério da pregação, foi enviado a Roma como candidato às missões.
Levada a bom termo a formação missionária apropriada, partiu para a China
juntamente com dois confrades. Ao chegar foi acolhido com imensa alegria pelo
Vigário Apostólico, o bispo Antônio Fantosati. Apesar do ambiente de
perseguição, nunca desistiu de pregar, de converter e de batizar em nome do
Senhor. E o seu apostolado era frutuoso, até pelo fato de ter aprendido na
perfeição a língua chinesa.
Numa carta dirigida aos pais
pouco antes do martírio, descreve a alegria de se encontrar na China, pede
orações pela conversão dos infiéis, e acrescenta: <<Procuremos tornar-nos
santos; se alcançarmos essa graça, poderemos cantar no céu um Aleluia
eterno>>. No dia 4 de julho de 1900, a missão onde ele se encontrava foi
invadida pelos Boxers. O P. Cesídio foi a correr à capela para consumir o SS.
Sacramento, e logo de seguida enfrentou a raiva dos perseguidores. Foi
assassinado a golpes de lança e à paulada. Contava apenas 27 anos, e foi assim
o primeiro mártir na perseguição dos Boxers de 1900.
José Maria Gambaro nascido na província de Novara, a 7 de agosto,
recebeu no batismo o nome de Bernardo. Com 13 anos entrou no colégio seráfico,
e com 17 recebeu o hábito religioso dos frades menores e o nome de José Maria.
Ativo e ao mesmo tempo
circunspecto, entusiasta sem deixar de ser prudente, foi apreciado pelos
superiores, ao ponto de o escolherem, quando ainda era clérigo teólogo, para
assistente dos irmãos jovens em Ornavasso. Uma escolha muito acertada, pois a
sua natureza perspicácia, aliada ao bom exemplo que dava e à afabilidade com
que a todos tratava, produziu copiosos frutos naqueles jovens que se preparavam
para o sacerdócio e para a vida religiosa franciscana. Apenas ordenado
sacerdote, em 1892, foi nomeado reitor do colégio de Ornavasso. Por um ano
apenas, porquanto, secundando os seus desejos, os superiores permitiram-lhe
seguir a vocação missionária. Em 1896 abandonou a Itália, e ao chegar à China
foi destinado a Hu-nan.
A nova experiência num primeiro
momento apresentou para ele grandes dificuldades: os usos e costumes tão
diferentes dos europeus não foram tão difíceis de assimilar como a língua. O
vigário apostólico Fantosati, considerando as ótimas qualidades de Gambaro,
destinou-o a um seminário, onde durante três anos foi reitor e professor, e
incutiu entusiasmo em três jovens seminaristas que o admiravam e imitavam. Mas
quando faltou o missionário duma importante cristandade, José Maria foi
encarregado de o substituir. Com serena fortaleza e absoluto abandono nas mãos do
Senhor conseguiu fazer frente à vida missionária ativa e às suas inevitáveis
dificuldades.
No Pentecostes de 1900 foi
chamado a Lei-yang por Mons. Fantosati, e passados poucos dias dirigiram-se
ambos a um lugar onde os pagãos tinham destruído a capela, a fim de providenciarem
à sua reconstrução. Aí se abateu sobre eles a perseguição, que também estalou
de improviso na residência do vigário apostólico. Logo que receberam as
primeiras tristes notícias, apressaram-se ambos a regressar à sede. Debalde os
cristãos insistiram com eles para se esconderem num refúgio seguro; ambos
declararam sem hesitação que o seu lugar era junto do rebanho em perigo,
custasse o que custasse, e para lá embarcaram de imediato. Quando ao fim de três
dias chegaram ao seu destino, foram recebidos por uma turma fanática e
enfurecida e ao desembarcarem foram imediatamente linchados e assassinados.
Alguém contou que o P. José Maria, já agonizante, ainda teve forças para pronunciar
as suas últimas palavras sobre a terra: << Jesus, tem piedade e salva-nos
>>. Era o dia 7 de junho de 1900, e ele contava 31 anos de idade, 14 de
religioso, 8 de sacerdócio e 4 de missionário.
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