Uma das características do apostolado dos missionários no
Japão era a de se rodearem de fiéis do próprio local como colaboradores ativos
na obra de evangelização em outras atividades. Pelo fato serem japoneses
nativos, perfeitos conhecedores da língua, dos costumes e das instituições,
esses ajudantes formavam uma preciosa vanguarda para os missionários. A catequese
de crianças e de catecúmenos adultos em preparação para o batismo era
geralmente confiada a catequistas japoneses. A assistência a doentes nos hospitais
ou a domicílio, as obras de beneficência em favor dos pobres, os orfanatos para
acolher crianças abandonadas ou órfãs, eram por via de regra entregues a esses
maravilhosos cristãos, que repetiam nos tempos modernos os prodígios dos
cristãos da Igreja primitiva.
Dentre eles, os melhores catequistas, aqueles que
evidenciavam melhor formação espiritual ou davam indícios de vocação religiosa,
eram admitidos à Ordem Terceira Franciscana, ou em alguns casos mesmo à Primeira
Ordem. Nessa situação, mais ligados ao apostolado do missionário e imbuídos do
espírito franciscano, trabalhavam ainda com mais diligência. Os Beatos que hoje
recordamos estavam nesse caso: eram catequistas e terceiros franciscanos.
O Miguel foi abandonado pelos pais, quando ainda era
pequeno. Acolhido por cristãos e confiado à obra da Santa Infância, onde
recebeu o batismo e educação cristã. Quando já era crescido foi entregue a um
comerciante espanhol. Mais tarde passou à missão, e foi acolhido pelo
franciscano espanhol Padre Rojas, que lhe ministrou os estudos primários,
nomeou-o catequista, e a pedido do próprio inscreveu-o na TOF. Numa região onde
se deslocara por assuntos de catequese, encontrou-se com outro catequista, o
Lucas, de quem se tornou amigo, e com o qual regressou a Nagasáki, onde
trabalharam em conjunto desde 1618 a 1627. Nessa época de terrível perseguição
religiosa, Valeram-se a sua arte de carpinteiros para construírem abrigos e
esconderijos onde pudessem pôr a salvo os missionários e outros cristãos
perseguidos. Essa atividade, no entanto, valeu-lhes a condenação. Reconhecidos
como cristãos, foram detidos e metidos na cadeia durante vários meses. A 16 de
agosto de 1627 foram tirados do cárcere e conduzidos a Nagasáki, à chamada
Colina Sagrada ou Monte dos Mártires, onde foram decapitados e alcançaram a
palma do martírio e a glória do céu.
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